A Renault 4L ‘made in Cadaval’ e a famosa Peugeot 504 Pick-up são dois dos automóveis mais populares da BP Ultimate 24 Horas TT Vila de Fronteira. Esta é a história de duas equipas que, ano após ano, fazem da prova do ACP uma verdadeira festa do TT e do convívio.
Ver uma Renault 4L ou uma Peugeot 504, com um aspeto de série, a percorrer o duro Terródromo de Fronteira, na mesma pista onde ‘voam’, por exemplo, uma Toyota Hilux Overdrive V8 ou os vários protótipos construídos em França, é um cenário que entusiasma o público de Fronteira. A já famosa Peugeot enfrenta as 24 Horas de Fronteira desde 2006 e já foram vários os trabalhos feitos em torno da fiável e quase indestrutível pick-up francesa. Joaquim Serrão, um dos responsáveis da equipa, contou algumas histórias curiosas sobre estas participações. Como a que envolve o mecânico holandês que, desde 2011, assiste a 504 e utiliza métodos peculiares para medir o gasóleo no tanque ou alinhar as rodas. “O Sander caiu aqui de para-quedas. Certa noite, já tarde, um estranho aproximou-se da box e pediu para ver o motor. Como é habitual termos visitantes curiosos, não estranhámos e acedemos ao pedido. Assim que viu a mecânica virou-se para nós e disse que íamos ficar pelo caminho. Ora, tínhamos testado a carrinha e ela parecia impecável… agora aparece aqui um maluco a dizer que íamos avariar! A verdade é que ele apontou para um tubo que estaria solto e, sorte ou não, verificámos que estava mesmo prestes a saltar. Ainda não refeitos da surpresa, já o Sander estava a dizer que iriamos voltar a ficar parados na pista. Apontou para uma zona do motor e garantiu que a fricção com o tubo do lado tinha ‘comido’ o revestimento e estava tão fino como papel... E tinha mesmo razão! Pediu se podia continuar a mexer no carro enquanto nós dormíamos e, meio desconfiados, aceitámos. A verdade é que na manhã seguinte a 504 trabalhava como um relógio e o Sander nunca mais nos largou!.”
Outro episódio inesquecível foi a troca do motor original, um 2.0D atmosférico, pelo potente (cerca de 100 cv) 2.3 TurboDiesel que agora equipa a irredutível gaulesa. “O carro ainda correu em Fronteira uns dois ou três anos com o motor original e mudanças no volante. Entretanto, achámos que este carro já merecia um motor melhor e mais competitivo e fomos recuperar um 2.3 TD de uma ambulância. Durante o processo de ‘transplante’, um dos nossos mecânicos pediu-nos o motor 2.0D para alimentar uma bomba de água no terreno que tinha junto ao Tejo, e assim foi. O mais curioso é que, anos mais tarde, precisámos de uma peça que era comum aos dois motores, fomos ao terreno deste nosso mecânico e encontrámos o motor a trabalhar sem qualquer problema 24 horas por dia! Retirámos o que precisávamos e deixámos o velho 2.0D a cumprir a sua tarefa de retirar água do Tejo. Ainda lá está! Querem melhor prova de fiabilidade do que isto? Estes carros são quase indestrutíveis…”, afirma Joaquim Serrão. Este ano, a Peugeot cumpriu 37 voltas na corrida, ou seja, uns demolidores 606,8 quilómetros por entre terra, lama, água, saltos, regos e afins.
Uma ‘catréle’ especial
A Renault 4L vinda do Cadaval também já fez seis edições das 24 Horas TT e ganhou o estatuto de ícone em Fronteira. A sua fama ultrapassou as ‘fronteiras’ do todo-o-terreno e passou a ser convidada para participar em provas de estrada. Samuel Lima é o mentor da 4L e contou-nos como tudo começou: “Fui desafiado por quatro amigos para participar nas 24H TT. Como sou mecânico de profissão, acharam que seria uma mais-valia. Também tinha alguma experiência como piloto. O nosso objetivo é sempre terminar a prova e temos feito de tudo para o conseguirmos nas seis edições em que já participámos. Este motor 1.1, por exemplo, é o mesmo que utilizámos em 2008, ainda é o original para podermos correr na Promo B. As únicas alterações que fizemos no 4L foram as suspensões e o escape, que passou a ser direto do coletor até à ponteira. Ainda assim, no primeiro ano tivemos de desmanchar 5 carrinhas 4L para conseguir fazer a nossa a tempo!”.
E como é que lidam com o carinho do público? “Os fãs e entusiastas são o nosso ‘combustível’, sem eles este projeto não teria rodas para andar. Muitas vezes são membros do público que procuram os patrocínios que nos permitem estar na prova. Quero agradecer profundamente ao público e ao Município do Cadaval, que nos apoiou desde o primeiro minuto”, destacou.
“Este carro estava quase sempre parado na minha garagem, mas o ano passado desafiei um ex-membro da equipa de Fronteira para ser o meu navegador na Rampa da Foz do Arelho. Até apostei que, se ficasse em primeiro da classe, iria dar um mergulho. E ganhei… a classe e um mergulho no mar gelado. Entretanto, um dos patrocinadores soube daquilo e desafiou-nos a fazer a Rampa da Cela. Já tinha o carro todo preparado para vir para Fronteira e tive de voltar a desmontar as ‘especificações’ de terra e montar as de asfalto. Logo a seguir, fomos convidados para fazer uma demonstração num slalom de um Motorfest e, mais uma vez, aceitámos. O público fica entusiasmado sempre que nos vê entrar em pista e isso é bom para nós e para a organização. Como eu costumo dizer, a 4L não anda muito, ela desfila. Aliás, com 34 cv e mais uns pozinhos, o andamento é sempre relativo... Mas tem sido difícil parar esta onda em torno da 4L. Ainda em meados de novembro, no fim-de-semana antes da prova, fomos convidados para fazer de carro 0 num rali, mas já era muito em cima da prova de Fronteira e não quisemos arriscar”. E nesta 25.ª edição das 24 Horas de Fronteira, a equipa da 4L voltou a atingir o objetivo: chegar ao final, o que foi cumprido após 32 voltas ao Terródromo de Fronteira, ou seja, uns duros 524,8 quilómetros.