Aos 80 anos, Yves Morize é o mais veterano em Fronteira

13 dezembro 2024

Nascido em Chartres, França, em 1944, Yves Morize, hoje com 80 anos, é a prova viva de que a paixão pelos automóveis e pelas corridas não esmorece com a idade. Desde muito jovem Yves cresceu rodeado por motores e máquinas. Já em pequeno, ajudava na loja de peças automóveis da família, gerida pelo pai e pelo avô, ambiente que acabou por lhe moldar o futuro. Ao lado dos seus irmãos, Yves construiu uma carreira sólida na gestão dos negócios ligados à indústria automóvel. A presidência do grupo AD destacou-o no mundo empresarial, liderando uma vasta rede de oficinas e distribuidores Auto-Distribution (AD) em França e Espanha.

A paixão pela competição começou tarde, aos 40 anos, em 1974, como copiloto no Campeonato de França de R5 Turbo, mas o desporto automóvel revelou-se muito mais do que um simples passatempo. O ano de 1986 marcou o primeiro grande salto no desporto automóvel, quando participou no Paris-Alger-Dakar, no apoio ao seu irmão, Jean-Pierre. A partir daí, a sua carreira de piloto ganhou asas. Yves Morize enfrentou algumas das provas mais duras do mundo: Rally dos Faraós, Paris-Dakar, Paris-Moscovo-Pequim, Paris-Cidade do Cabo, entre outras competições lendárias.

Em 2006, venceu as 24H TT de Fronteira, prova onde participa desde a sua segunda edição. Mas, afinal, o que o traz de volta a Portugal, ano após ano? “Em primeiro lugar, tenho boas memórias. Até porque ganhei a prova em 2006. Em segundo lugar, porque a amizade que une Portugal e França é extremamente importante e ainda encontro muitos portugueses a falarem um francês razoável. Em terceiro lugar, e não menos importante, come-se muito bem. Ou seja, sinto-me bem-vindo e em casa. E não é apenas em Fronteira. Sinto-me bem em Cascais, em Lisboa, no Porto, no Algarve... Adoro Portugal e os portugueses”.

Voltando à carreira como piloto internacional, em 1987, Yves Morize participa, pela primeira vez, no Dakar, com um Range Rover. Em 1989, ainda com um carro similar, terminou o seu primeiro Dakar. “Fiquei em 54º, em cerca de 100 concorrentes. Daí para a frente, vim sempre a melhorar. Entretanto, com um Toyota, fiz o Paris/Cidade do Cabo. Foram 17 mil km e atravessámos 12 países, ao longo das 3 semanas de duração da prova. Era muito duro. Fazíamos cerca de 800 km por dia, conduzíamos 12h a 14 h diariamente e dormíamos 4h. Também fiz três Paris/Pequim. Éramos completamente loucos. Dormíamos em tendas sem condições e comíamos o que podíamos. Nesse tempo, como a qualidade da água e da comida não era boa em muitos dos países onde passávamos, optávamos por rações de combate. No meu primeiro Dakar perdi 10 kg de peso. Quem achou piada à dieta forçada foi a minha mulher que, ainda hoje, diz que foi muito mais eficaz do que qualquer tratamento de emagrecimento”.

Do alto dos seus 80 anos, Yves Morize, ou Circo Momo, como carinhosamente é apelidado, afirma que este deve ser o último ano em que participa nas 24H TT de Fronteira, mas que, em 2025, espera voltar nem que seja como team manager ou como espectador. “Para mim este traçado é o mais bonito do mundo. É uma pista extraordinária, com uma grande variedade de curvas, subidas e descidas. Paisagens de cortar a respiração, com cambiantes de cor e luz que tornam o ambiente mágico. A organização é perfeita, faz um trabalho incrível e sem falhas. E, como se não bastasse, tem um público espetacular. Nada suplanta sentir 60 mil pessoas a puxar por um piloto, a vibrar com uma prova deste tipo. Que mais se pode pedir? Cheguei a participar em edições com mais de 150 pilotos à partida e é fácil perceber o porquê do fascínio com esta prova tão icónica”.

Episódios curiosos em pista são às dezenas, incluindo aqui, em Fronteira, mas há um que Yves recorda com especial apreço. “Num dos últimos Dakar que fiz, ao subirmos uma duna, demos com o Vatanen atolado na areia. Claro que parámos e, com umas cintas, ajudámos a libertá-lo do atoleiro onde estava enfiado. À noite, já no bivouac, ele veio à nossa procura e, de braços abertos (e com uma garrafa de Whisky na mão para nos oferecer) gritou: foi você que me ajudou hoje? Respondi que sim com a cabeça e o Vatanen deu-me um abraço e disse: obrigado, você é um verdadeiro cavalheiro...”

Hoje, Yves Morize, e apesar dos seus 80 anos, continua a contribuir para o desporto automóvel como piloto, mas também coorganizador de encontros de antigos participantes no Paris-Dakar. Além disso, o seu legado parece assegurado pelo seu sobrinho, Yann Morize, que segue os passos do tio no talento e na determinação, colecionando vitórias nas 24 Horas TT em Portugal, ao serviço do Team Alexandre Andrade.

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