Fomos perceber como é que se constrói uma equipa feminina na prova mais dura do desporto automóvel nacional. Uma coisa é certa, chegam com a promessa de não se esquecer destes momentos, mesmo que segunda-feira as preocupações já sejam outras.
O quarteto de Porto de Mós não tem meias medidas em arranjar forma de dar esta entrevista. O lado prático e despachado está-lhes no sangue, assim como o amor pelas 4 rodas. “Estamos a sair de Cabeço de Vide”. É a mensagem que nos avisa que faltam 15 minutos para nos encontrarmos nas boxes, nos últimos preparativos antes da prova começar. Queríamos perceber como é que, também aqui, as mulheres se preparam para serem líderes, e se o multitasking lhes dá vantagem sobre os homens. Como se fazem os treinos? E as afinações do motor, também são elas que decidem? O que não pode faltar nas suas malas para esta prova? E qual é que é a postura dos homens com elas na competição?
Aguentar a pressão dos saltos altos, retocar o batom, a bateria do telemóvel ou certificar de que os filhos ou o trabalho se mantem nos eixos, são algumas das preocupações diárias da maioria das mulheres. Aqui, esse pensamento fica um pouco distante. E trocar um pneu, manter a direção alinhada e saber sentir a estrada, são as únicas preocupações que se vivem no coração da equipa Tim Competição, durante as 24 horas de Fronteira.
Conheça as protagonistas:
A visão: Carina Castro, tem 24 anos e antes de chegar a esta sua verdadeira casa, estudou cinema e televisão. A repórter de imagem passou um ano a trabalhar em Londres, mas voltou decidida a entrar no mundo do desporto automóvel.
O coração: Joana Cordeiro, também com 24 anos, foi buscar as suas melhores armas à experiência como enfermeira no Hospital de Tomar. “O facto de conseguir reagir sobre pressão e lidar com o imprevisto. O pensar rápido e a adrenalina” são os grandes fatores que leva para a pista.
A experiência: Sónia Ferreira aos 38 anos, é diretora financeira de um grupo de empresas, e promete deixar as contas fora das pistas. “No carro tenho que me manter concentrada”. E apesar de ser a primeira vez que este quarteto se une, este é um nome experiente na estrada, contando com a participação no Campeonato Nacional de TT e nas 24 horas TT de Fronteira de há dois anos.
A voz: Para fechar esta equipa feminina, está Teresa Coelho, assistente social e terapeuta familiar, com 45 anos, que pode ser conhecida como a voz a ouvir nos momentos de maior pressão.
Como se juntaram 4 mulheres com histórias tão dispares para este encontro?
Carina esclarece, “Nós vivemos todas no concelho de Porto de Mós e temos um elemento em comum que é o Tim, ele é que tem os carros de corrida e é também o culpado de estarmos aqui hoje.”
Ser mulher num mundo de homens é fácil?
“Cada vez mais as mulheres tentam entrar neste mundo e, sendo também um mundo delas, é importante torná-lo como tal”, adianta Sónia. Afinal, a audácia, a perseverança e a força de vencer, são também destrezas destas pilotos.
E os homens, tratam-vos bem?
“Não temos vantagem em relação aos homens, mas eles são mais cuidadosos quando há uma equipa feminina. São mais protetores, não reclamam tanto. E nós não somos tão stressadas. É verdade que eles também nos respeitam mais.”, esclarece Teresa.
O que trazem na mala à parte do equipamento?
“Não trazemos nada de especial. Aqui temos de ser muito práticas. Por isso trazemos as coisas diárias”, explica Carina. “O batom do cieiro e o creme hidratante de rosto.” Acrescenta Joana. E maquilhagem? “Aqui não há maquilhagem. Ficávamos todas borradas!”
O que vos passa pela cabeça quando estão a conduzir?
“Manter o foco na estrada, pensar no que vem a seguir, conseguir controlar o carro. Os problemas ficam fora da carrinha. Não dá para pensar muito mais do que isso”.
E o ambiente em Fronteira, como é?
“Existe muito convívio, muita cooperação. Às vezes nem chegamos a saber o nome de quem nos ajuda, mas somos todos família aqui, e isso dá-nos muita confiança para conduzir”, explica Carina.
E a parte técnica, quem faz? Também são mulheres?
“Há aqui uma futura engenheira mecânica, mas para já, o apoio técnico é feito por uma equipa masculina”, esclarece Teresa.
Depois da prova, prometem apenas descansar, com o pensamento de terem que regressar ao trabalho, a uma rotina com um pouco menos de adrenalina (não muito menos!). Filhos, trabalho, o dia-a-dia espera por estas quatro mulheres que, talvez passem despercebidas nas suas rotinas, mas que aqui, se destacam pelo talento e coragem. “Este desporto é mais uma das multi-facetas que todas as mulheres têm. Habituamo-nos a ter tantos papéis sociais durante o dia, que aqui, é mais um. No dia seguinte volta tudo ao normal, com exceção de que levamos uma bagagem cheia de boas recordações”, conclui Teresa.