Fomos encontrar o Comandante Guilherme Isidro num quartel improvisado em Fronteira. Rodeado de árvores, de terra, e de pessoas. Que cenário conhecerá melhor? Não tínhamos previsto escrever isto. Mas não serão as melhores histórias aquelas que se encontram quando menos as procuramos? Atrás de um mar de gente e de uma sopa da pedra servida pela corporação, contou-nos como este ano trouxe 700 pessoas a Fronteira e, ainda, como esse recorde os ajuda (aos poucos) a sarar as feridas. Porque este ano os fogos arderam ainda mais, doeram ainda mais. E que para o ano esperam vir com ainda mais gente, “se Deus quiser”.
Costuma dizer-se que: “Onde se junta um português, juntam-se logo dois ou três.” E quando a causa é nobre, movemos montanhas, que é como quem diz fazemos quilómetros e quilómetros. Que o digam os Bombeiros Voluntários de Ourém que vieram por estradas e estradinhas até à Vila de Fronteira para participar pela 9ª vez nas 24 Horas TT.
Na primeira pessoa, o comandante explica: “Isto começou com a organização de um grupo de pessoas ligadas aos Bombeiros que vinham assistir à prova e que tiveram a iniciativa de vir organizados de Ourém até aqui, em passeio, e ao mesmo tempo tirar alguns dividendos para nos ajudar”. E o “passa-a-palavra” fez o resto? “Sim, foi crescendo ao longo dos anos de forma a que hoje, batemos todos os recordes: conseguimos juntar aqui cerca de 700 pessoas!”, acrescenta com um misto de orgulho e satisfação no olhar que não nos surpreende.
“Quanto tempo demora na organização?” Questionamos, impressionados, mas com a sensação de que para estes homens isto é “canja”. “Não é fácil organizar isto tudo. Com os anos há coisas que já fazemos da mesma forma, mas, uma vez que vimos de Ourém a Fronteira sempre fora de estrada, é sempre algo planeado com tempo para garantir que conseguimos cá chegar sem problemas. São sempre dois ou três meses de preparação para que tudo corra bem”. E corre, ao pé do comandante o que não falta é gente satisfeita. À beira do porco no espeto, da jeropiga e da fogueira, contam-se histórias, trauteiam-se as músicas da rádio e reencontram-se os amigos. Os participantes pagam 35€ o que inclui uma lembrança, pequeno almoço, Porto de honra, duas sopas da pedra, duas sandes e duas bebidas.
“E a festa, dura a noite toda?”, queremos saber. “Por norma, a festa começa a acalmar por volta das 5h da manhã, até porque começa a ser hora de organizar o regresso.”
Não queremos ir ao encontro do assunto, mas é incontornável. Num ano tão difícil para os bombeiros, é também uma forma de criar memórias boas do ano? “Este foi um ano mesmo muito complicado, muito difícil mesmo. E isto serve um bocadinho de escape e também de ajuda. Aqui acabamos por descontrair um pouco e tentar angariar fundos para substituir algum material que nos é necessário no dia-a-dia. Foi um ano difícil de superar e aqui acabamos também por recuperar um pouco. Nós também somos pessoas, e estar aqui faz-nos bem.”
Com os fundos angariados nos anos anteriores, os bombeiros conseguiram comprar 120 cacifos individuais, 120 casacos de abafo e um jipe de comando, para além de muitos outros materiais. “E estes objetivos também fazem com que nos motivemos. Neste momento, o que precisamos mais é de substituir dois veículos, algo que esperamos que se concretize brevemente.”
Há quem traga o sofá da sala para se sentir como se tivesse em casa. Há quem venha com os amigos e aguente a noite toda para ver os carros passar. E há quem faça isso tudo, mas também apoie uma causa.