Mário Andrade é uma figura bem conhecida nas 24 Horas TT Vila de Fronteira. Aos 65 anos, o piloto venceu a prova sete vezes: quatro como piloto e três como team manager. Em vésperas de mais uma edição da prova do Automóvel Club de Portugal, Mário Andrade revela que a competição é um assunto de família e que os carros são como os cavalos – quanto pior lhes fizermos, mais eles tendem a retribuir na mesma moeda.
Como começou esta paixão pelo desporto motorizado?
Sempre tive uma paixão por automóveis, por motas. Felizmente encontrei uma boa equipa, aventurei-me nas corridas e nunca mais parei. Os resultados falam por si, temos 12 participações contabilizadas nas 24H. Penso que é um recorde e isso faz-nos andar para a frente.
O Mário lembra-se da primeira vitória?
Então, não me lembro? Foi em 99 com o Renault 4 L. E o Henri Pescarolo, que na altura era o meu ídolo, disse-me: “vite doucement”. São palavras que nunca esqueci e que repito sempre - “para ganhar isto é preciso andar depressa devagar”.
Como são os dias antes da prova?
Isso depende muito das pessoas. O meu filho espera pela véspera para preparar o material todo, normalmente está preocupado com o seu trabalho e não tem muito tempo. Mas ele faz sempre o arranque das 24H porque é o piloto mais calmo do grupo. Há uns anos chamavam-lhe o Ice Man porque tinha sempre um ar muito tranquilo. Já eu não gosto daqueles 30 minutos antes de uma prova, fico ainda mais nervoso. É mais giro para mim entrar no carro, pôr o capacete e vamos embora. O meu genro não dorme porque não pára de pensar na corrida.
Qual é o pior cenário para um piloto numa prova como esta?
O cenário mais desagradável é a chuva, sem dúvida. Mas não é a chuva durante a corrida, é a chuva antes, especialmente quando se vai preparar e montar as coisas. Depois é ainda pior. A chuva quando estamos a desmontar, quando normalmente estamos cansados e cheio de sono, é ainda pior. Neste tipo de competição, tudo conta: a experiência do piloto, as condições do carro, mas também precisamos de um bocadinho de sorte.
Está confiante na vitória?
É evidente que o que se quer é ganhar, nunca nos cansamos de ir ao pódio, de subir ao lugar mais alto. Uma prova como esta é muito exigente fisicamente, quando ouvimos o barulho brutal das pedras por baixo do carro e, às vezes, nem dá para entender como é que tudo aquilo não rebenta. Mas um carro de competição é muito frágil, é quase como um cavalo. Quanto pior lhe fizermos, mais a máquina tem a tendência de retribuir na mesma moeda. Temos de ter muito repeito pela máquina, é o mais importante numa corrida de resistência.
Passou agora a team manager da equipa. Qual a maior diferença?
Eu decidi passar o lugar ao meu filho e ao meu genro. Mas é como andar de bicicleta: não se esquece. O TT é puxado e o meu físico não estava a gostar destas brincadeiras ao longo dos anos. Portanto, guardo os passeios de mota mais compridos para mim – porque ainda os aguento –, mas na competição está na altura de dar lugar aos mais jovens.
Como é que as provas motorizadas entraram no mundo do seu filho?
O Alexandre andou sempre comigo nas corridas, em circuitos, provas, etc. Em 2004, quando precisei de um piloto, os meus amigos diziam para não me preocupar porque já tinha um em casa. Nesse mesmo ano, o Alexandre fez uma prestação fenomenal. Até hoje tem um lugar na equipa. De vez em quando, como já fez o que tinha a fazer, deixa uns amigos ir no lugar dele. É uma questão de partilha e é importante partilhamos estes momentos com os nossos amigos. Ele já tem mais 20 anos de experiência e agora é o meu neto que vê o pai a correr e já começa a ter o bichinho.
É um negócio de família…
É uma história que está a passar de geração para geração e espero que assim continue.