Diferentes realidades, a mesma paixão

30 novembro 2021

Ao longo de 23 edições das 24H TT de Fronteira, a evolução da prova foi notória e reconhecida por todos. Mais tecnologia a bordo dos carros, maior segurança para os participantes e público, acrescida preocupação com o meio ambiente e com o tratamento dos resíduos. Mas há uma caraterística que define a prova de Fronteira e que continua imutável: a democraticidade das participações. E não faltam exemplos…

Podíamos recuperar a história de Rui Cardoso, o piloto/jornalista que participou em todas as edições da prova e que há 20 anos que corre com o mesmo Nissan Patrol GR de sempre, ou do Renault 4L da equipa de Samuel Lima, entre tantos outros automóveis e equipas que deixaram a sua marca ao longo destas 23 edições. Mas, provavelmente, nenhum será tão paradigmático como a icónica Peugeot 504 Pick-Up que há mais de uma década alimenta e se alimenta da carolice da equipa de Joaquim Serrão. Com um orçamento, naturalmente, limitado, a 504 equipada com um motor 2.3 TurboDiesel de 100 cv “contenta-se” com um consumo de cerca de 12 l/100 km. Tendo em atenção que a vetusta gaulesa percorre cerca de 1000 km por edição das 24H TT de Fronteira, chegamos a um consumo total de, aproximadamente, 120 litros de gasóleo.

Nas palavras do responsável da equipa, “pela primeira vez, este ano, houve orçamento para uma equipa de assistência mais profissional e, até, serviço de catering”. “Mas, pelo sim pelo não, trouxemos um presunto...”, confidenciou Joaquim Serrão. Por entre toda a experiência, o pior foi mesmo um acidente ocorrido na semana passada em Torres Novas. “Os travões do reboque onde vinha a carrinha bloquearam de repente em plena autoestrada e a Peugeot acabou por tombar. Os danos não foram suficientes para ditar uma desistência, mas passámos alguns dias a tentar compor a chapa com recurso ao nosso “endireita” interno e mestre bate-chapas”.

Assistência: check! Comida: check! Então e os pneus? “Até este ano eram oferecidos pela Fedima, mas nesta edição já comprámos, embora a preços quase simbólicos. Mas também somos poupadinhos, gastamos no máximo quatro pneus por corrida, se não tivermos nenhum contratempo...”

 

Do 8 ao 80

Uma realidade que contrasta com a da equipa vencedora desta edição e que já acumula 8 vitórias nas 24H TT de Fronteira. Ao volante do A.C. Nissan Proto, Alexandre Andrade, da equipa que ostenta o seu nome, não tem este tipo de “preocupações”. Concentrado em gerir o seu andamento e o dos seus adversários mais diretos, não pensa muito em consumos ou no número de pneus. Ainda assim, com quase o dobro da distância percorrida nas mesmas 24H e um potente motor Nissan 3.5 V6 com cerca de 320 cv, o A.C. Nissan Proto consome aproximadamente 1000 litros de gasolina 98 para cumprir quase 2000 km durante o período de duração da corrida.

O mesmo se passa com os pneus. Em teoria, um jogo de pneus de competição dura a prova toda, mas a equipa não arrisca e, a este nível e na luta pela vitória, nem faria sentido. Por isso, optam sempre por trocar um jogo completo ainda de madrugada. Isto, claro, se não tiverem nenhum incidente de corrida.

É esta a magia das 24H TT de Fronteira, onde os contrastes orçamentais podem até ser elevados, mas onde a paixão pelo desporto automóvel e o Todo-o-Terreno é comum e está sempre presente.

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